segunda-feira, novembro 18, 2013

O ESPAÇO DE DEUS E O NOSSO

Efésios 1.1-23

            Vamos usar como base bibliográfica para este tema o pensamento do  escritor N. T. Wright no livro Simplesmente cristão, da Editora Ultimato. Com o relato da transfiguração (Mc 9.2-8) e os diversos momentos do Senhor ressurreto com os seus discípulos, somos levados a pensar na inter-relação entre o Espaço de Deus e o nosso. Tanto no grego como no hebraico a palavra “céu” pode significar de fato “o firmamento.” No sentido bíblico, “Céu é o espaço de Deus em oposição ao nosso espaço, e não o lugar de Deus dentro do nosso universo de espaço-tempo.” Pergunta N. T. Wright: “caso o nosso espaço e o espaço de Deus se cruzam, quando e onde isso acontece?” Podemos dividir no campo de crer as pessoas em teístas e ateístas. As pessoas teístas (que creem em Deus) em três blocos: panteístas, deístas e cristãs.

PANTEISMO

            O panteísmo deixa os dois lugares juntos. O espaço de Deus coincide com o nosso espaço. Deus está em toda parte e toda parte é Deus; Deus é tudo e tudo é Deus, esta é a visão do panteísmo; é  formas diferentes de se referir à mesma coisa.

            O panteísmo se popularizou na Grécia antiga e no mundo romano do primeiro século, principalmente através da filosofia chamada estoicismo, sistema filosófico, cujo fundador foi Zenão de Cítio (Chipre), filósofo grego (342-270 a.C.), que aconselha a indiferença e o desprezo pelos males físicos e morais, sendo um comportamento de austeridade, de rigidez de princípios morais. O panteísmo sofreu forte declínio e tem se tornado cada vez mais popular em nossos tempos.

            Pelo alto nível de exigência do panteísmo, atualmente alguns pensadores têm optado por uma variação sutil, chama de “panenteísmo”, que é a visão de que, embora nem tudo seja divino, tudo que existe está dentro de Deus (pan = tudo, em = em, theos = Deus). Doutrina fundada pelo filósofo alemão Karl Christian Friedrich Krause (1791-1832). Nenhuma destas duas visões filosóficas consegue lidar com o problema do mal. O panteísmo é incoerente com a realidade cristã.

DEISMO

            O movimento deísta tornou-se muito popular no Ocidente no século 18. Nesta ideia filosófica há uma separação entre as esferas de Deus e a nossa. Esta visão era bastante popular na antiguidade, ensinada pelo poeta e filósofo Lucrécio, que viveu um século antes de Jesus e desenvolveu e expandiu o ensino de Epicuro, que viveu dois séculos antes dele. A ideia básica desta visão filosófica é que os seres humanos devem se acostumar a estar sós no mundo. Os deuses não interferem nas vidas das pessoas, nem para ajudá-los nem para prejudicá-los. Esta é uma área fértil para a filosofia que se tornou amplamente conhecida como “gnosticismo”. O deísmo é o sistema do que creem em Deus, mas rejeitam a revelação, contrriando a palavra de Deus.

            Vejamos algumas definições facilitadoras para complementação desse assunto (do dicionário Michaelis):

  • Gnosticismo: Movimento sincretista religioso-filosófico da Antiguidade que pretendia salvar o homem por um conhecimento especial. Penetrando o cristianismo, absorveu várias de suas doutrinas, rejeitando outras. Constituiu aí diversas seitas heréticas, que representaram séria ameaça à ortodoxia nos séculos II e III.
  • Agnosticismo: Qualquer doutrina que afirma a impossibilidade de conhecer a natureza última das coisas. Doutrina que afirma a impossibilidade de conhecer a Deus e a origem última do Universo.
  • Teísmo: Crença na existência de Deus e em sua ação providencial no Universo.
JUDAISMO / CRISTIANISMO

            É a forma de crer que o céu e a terra não são contíguos, nem estão separados, pelo contrário se sobrepõem e se interconectam de várias maneiras. Para o panteísta, Deus e o mundo são praticamente a mesma coisa. Para o deísta o mundo tanto pode ter sido criado por Deus como por deuses. Para os cristãos o mundo foi fruto do livre derramar  do poderoso amor de Deus.  “O único Deus verdadeiro criou um mundo diverso dele mesmo, porque lhe agradou fazê-lo. Tendo feito o mundo tal como é, ele tem mantido um relacionamento próximo, dinâmico e íntimo com ele, sem de forma alguma estar contido nele ou que ele esteja em sei mesmo.”

O REINO DE DEUS, SEMPRE O REINO

            Passaremos a usar o livro Teologia do Novo Testamento de George Eldon Ladd, Editora Exodus, como base bibliográfica para alguns dos próximos conteúdos.
           
            Após o seu batismo por João, o Batista, Jesus iniciou o ministério de proclamação do Reino de Deus. Marcos destaca o início deste ministério com as palavras: “Ora, depois eu jaó foi entregue, veio Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus e dizendo: O tempo está cumprido, e é chegado o Reino de Deus” (Mc 1.14-15). Mateus sintetiza o ministério de Jesus dizendo: “E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando evangelho do reino, e curando todas as doenças e enfermidades entre o65.17) povo” (Mt 4.23). O evangelista Lucas registra um incidente em Nazaré quando Jesus leu uma profecia a respeito da vinda do ungido pelo Espírito do Senhor, anunciando: “Hoje se cumpriu esta Escritura aos vossos ouvidos” (Lc 4.18-21). Ladd comenta: “Não podemos compreender a mensagem e milagres de Jesus, a menos que os interpretemos no contexto de sua perspectiva do mundo e do homem, e a necessidade para a vinda do Reino.”

O DUALISMO ESCATOLÓGICO

            No Velho Testamento há uma perfeita distinção entre a presente ordem das coisas e a ordem redimida do Reino de Deus. Amós (9.13-15) descreve o Reino em termos bem deste mundo, mas Isaías vê a nova ordem como novos céus e uma nova terra (Is 65.17).

            Algumas vezes o Reino tem a descrição de uma nova ordem redimida na literatura judaica do período pós-exílico. Noutros momentos o Reino de Deus é descrito em termos bem terrenos, dando a ideia que a nova ordem é o aperfeiçoamento da antiga ordem. Noutros momentos a nova ordem é descrita em termos de uma linguagem transcendental. Como igreja cremos num reino temporal terreno (milênio), seguido por uma nova ordem  transformada e eterna; temos uma forma de pensar centrada no cânon bíblico.

            O fim da era presente é um assunto consistente em todos os Evangelhos. Mateus quando fala sobre as parábolas do Reino fala três vezes do fim desta nossa dimensão (Mt 13.39, 40, 49). “Pode-se argumentar que a esperança profética do Velho Testamento sobre a vindo do Reino sempre envolveu uma irrupção catastrófica de Deus na história” (Ladd).

            “Em resumo, esta era presente, que abrange o período desde a criação até o dia do Senhor, a qual nos Evangelhos, é designada em termos da pousaria de Cristo, ressurreição e julgamento, é a era da existência humana em fraqueza e mortalidade, do mal, do pecado e da morte. A era vindoura era a realização de tudo aquilo que o Reino de Deus significa, e será a era da ressurreição para a vida eterna no Reino de Deus. Tudo, nos Evangelhos, aponta para a ideia de que a vida no Reino de Deus na Era Vindoura será vida sobre a face da terra – mas só que uma vida transformada pelo domínio real de Deus quando o seu povo principiar a desfrutar as bênçãos divinas em toda a sua plenitude (Mt 19.2)” (Ladd). È difícil querer entender uma ordem superior quando só conhecemos o desgaste crescente, entrópico. O momento “tempo” que liga a eternidade passada à eternidade futura, nos limita bastante.

UM REINO MAIS PRESENTE

            Abordaremos um Reino que começa a ser real na experiência humana com o novo nascimento e vai se exteriorizando pela pratica cristã até a sua plenitude na Era Vindoura. Portanto,  traçaremos uma revisão começando pela fé e destacando a projeção escatológica do Reino de Deus.

            Na consumação escatológica, o Reino é uma herança dos justos (Mt 25.34). O Reino, é portanto, um dom que o Pai se “agrada em conferir ao pequeno rebanho dos discípulos de Jesus” (Lc 12.32). O Reino não é apenas um dom para o futuro, numa dimensão escatológica, que pertence a Era Vindoura, é também um dom que pode caminha com a paz, o gozo e alegria, que pode ser recebido hoje; é algo que pode ser provado aqui e agora (Mt 6.33) e recebido como as crianças recebem um presente (Mc 1.15; Lc 18.16-17.).

            O Reino representa a satisfação de todas as necessidades (Lc 12.31). As bem-aventuranças consideram o Reino como uma dádiva para os pobres de espírito, os perseguidos por causa da justiça (Mt 5.3-10). A bênção futura que pode ser desfrutada hoje, é o Reino. “À medida que atingia a maturidade, João sentiu um compulsão interior para sair do grandes centros de populações para o deserto (Lc 1.80). Depois de certo número de anos, aparentemente de meditação e espera por manifestações de Deus, ‘Veio a palavra de Deus a João’ (Lc 3.2), em resposta à qual João apareceu no vale do Jordão, anunciando, de modo profético, que o Reino de Deus estava próximo”.

            A pregação de João indicava uma atividade de Deus imediata no Reino quoe envolvia dois aspectos: um duplo batismo que deveria acontecer – como o Espírito Santo e com fogo (Mt 3.11 = Lc3.16). Marcos em sua narrativa condensada falando do ministério de João, menciona apenas o batismo com o Espírito Santo (Mc 1.8).

REFLEXÃO

            Um ponto e vista sobre esta proclamação é que João anunciou um único batismo que inclui dois elementos: a  punição do ímpios e a purificação dos justos. Outro ideia interpretativa é o sugerido pelo contexto. O Senhor Jesus viria e batizaria os justo com o Espírito Santo e os ímpios com o fogo. Neste caso “batismo” é uma expressão metafórica e não tem nada a ver com batismo em água. Qual a sua visão sobre o assunto?

A paz e sempre na paz,

Otoniel M. de Medeiros