Efésios 1.1-23
Vamos usar como base bibliográfica
para este tema o pensamento do escritor
N. T. Wright no livro Simplesmente cristão, da Editora Ultimato. Com o relato
da transfiguração (Mc 9.2-8) e os diversos momentos do Senhor ressurreto com os
seus discípulos, somos levados a pensar na inter-relação entre o Espaço de Deus
e o nosso. Tanto no grego como no hebraico a palavra “céu” pode significar de
fato “o firmamento.” No sentido bíblico, “Céu é o espaço de Deus em oposição ao
nosso espaço, e não o lugar de Deus dentro do nosso universo de espaço-tempo.”
Pergunta N. T. Wright: “caso o nosso espaço e o espaço de Deus se cruzam,
quando e onde isso acontece?” Podemos dividir no campo de crer as pessoas em
teístas e ateístas. As pessoas teístas (que creem em Deus) em três blocos:
panteístas, deístas e cristãs.
PANTEISMO
O panteísmo deixa os dois lugares
juntos. O espaço de Deus coincide com o nosso espaço. Deus está em toda parte e
toda parte é Deus; Deus é tudo e tudo é Deus, esta é a visão do panteísmo;
é formas diferentes de se referir à mesma
coisa.
O panteísmo se popularizou na Grécia
antiga e no mundo romano do primeiro século, principalmente através da
filosofia chamada estoicismo, sistema
filosófico, cujo fundador foi Zenão de Cítio (Chipre), filósofo grego (342-270
a.C.), que aconselha a indiferença e o desprezo pelos males físicos e morais,
sendo um comportamento de austeridade, de rigidez de princípios morais. O
panteísmo sofreu forte declínio e tem se tornado cada vez mais popular em
nossos tempos.
Pelo alto nível de exigência do
panteísmo, atualmente alguns pensadores têm optado por uma variação sutil,
chama de “panenteísmo”, que é a visão de que, embora nem tudo seja divino, tudo
que existe está dentro de Deus (pan = tudo, em = em, theos = Deus). Doutrina
fundada pelo filósofo alemão Karl Christian Friedrich Krause (1791-1832).
Nenhuma destas duas visões filosóficas consegue lidar com o problema do mal. O
panteísmo é incoerente com a realidade cristã.
DEISMO
O movimento deísta tornou-se muito
popular no Ocidente no século 18. Nesta ideia filosófica há uma separação entre
as esferas de Deus e a nossa. Esta visão era bastante popular na antiguidade,
ensinada pelo poeta e filósofo Lucrécio, que viveu um século antes de Jesus e
desenvolveu e expandiu o ensino de Epicuro, que viveu dois séculos antes dele.
A ideia básica desta visão filosófica é que os seres humanos devem se acostumar
a estar sós no mundo. Os deuses não interferem nas vidas das pessoas, nem para
ajudá-los nem para prejudicá-los. Esta é uma área fértil para a filosofia que
se tornou amplamente conhecida como “gnosticismo”. O deísmo é o sistema do que
creem em Deus, mas rejeitam a revelação, contrriando a palavra de Deus.
Vejamos algumas definições
facilitadoras para complementação desse assunto (do dicionário Michaelis):
- Gnosticismo: Movimento sincretista religioso-filosófico da Antiguidade que pretendia salvar o homem por um conhecimento especial. Penetrando o cristianismo, absorveu várias de suas doutrinas, rejeitando outras. Constituiu aí diversas seitas heréticas, que representaram séria ameaça à ortodoxia nos séculos II e III.
- Agnosticismo: Qualquer doutrina que afirma a impossibilidade de conhecer a natureza última das coisas. Doutrina que afirma a impossibilidade de conhecer a Deus e a origem última do Universo.
- Teísmo: Crença na existência de Deus e em sua ação providencial no Universo.
JUDAISMO / CRISTIANISMO
É a forma de crer que o céu e a
terra não são contíguos, nem estão separados, pelo contrário se sobrepõem e se
interconectam de várias maneiras. Para o panteísta, Deus e o mundo são
praticamente a mesma coisa. Para o deísta o mundo tanto pode ter sido criado
por Deus como por deuses. Para os cristãos o mundo foi fruto do livre
derramar do poderoso amor de Deus. “O único Deus verdadeiro criou um mundo
diverso dele mesmo, porque lhe agradou fazê-lo. Tendo feito o mundo tal como é,
ele tem mantido um relacionamento próximo, dinâmico e íntimo com ele, sem de
forma alguma estar contido nele ou que ele esteja em sei mesmo.”
O REINO DE DEUS, SEMPRE O REINO
Passaremos a usar o livro Teologia
do Novo Testamento de George Eldon Ladd, Editora Exodus, como base
bibliográfica para alguns dos próximos conteúdos.
Após o seu batismo por João, o
Batista, Jesus iniciou o ministério de proclamação do Reino de Deus. Marcos
destaca o início deste ministério com as palavras: “Ora, depois eu jaó foi entregue,
veio Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus e dizendo: O tempo
está cumprido, e é chegado o Reino de Deus” (Mc 1.14-15). Mateus sintetiza o
ministério de Jesus dizendo: “E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas
sinagogas, pregando evangelho do reino, e curando todas as doenças e
enfermidades entre o65.17) povo” (Mt 4.23). O evangelista Lucas registra um
incidente em Nazaré quando Jesus leu uma profecia a respeito da vinda do ungido
pelo Espírito do Senhor, anunciando: “Hoje se cumpriu esta Escritura aos vossos
ouvidos” (Lc 4.18-21). Ladd comenta: “Não podemos compreender a mensagem e
milagres de Jesus, a menos que os interpretemos no contexto de sua perspectiva
do mundo e do homem, e a necessidade para a vinda do Reino.”
O DUALISMO ESCATOLÓGICO
No Velho Testamento há uma perfeita
distinção entre a presente ordem das coisas e a ordem redimida do Reino de
Deus. Amós (9.13-15) descreve o Reino em termos bem deste mundo, mas Isaías vê
a nova ordem como novos céus e uma nova terra (Is 65.17).
Algumas vezes o Reino tem a
descrição de uma nova ordem redimida na literatura judaica do período
pós-exílico. Noutros momentos o Reino de Deus é descrito em termos bem
terrenos, dando a ideia que a nova ordem é o aperfeiçoamento da antiga ordem. Noutros
momentos a nova ordem é descrita em termos de uma linguagem transcendental. Como
igreja cremos num reino temporal terreno (milênio), seguido por uma nova
ordem transformada e eterna; temos uma
forma de pensar centrada no cânon bíblico.
O fim da era presente é um assunto
consistente em todos os Evangelhos. Mateus quando fala sobre as parábolas do
Reino fala três vezes do fim desta nossa dimensão (Mt 13.39, 40, 49). “Pode-se
argumentar que a esperança profética do Velho Testamento sobre a vindo do Reino
sempre envolveu uma irrupção catastrófica de Deus na história” (Ladd).
“Em resumo, esta era presente, que
abrange o período desde a criação até o dia do Senhor, a qual nos Evangelhos, é
designada em termos da pousaria de
Cristo, ressurreição e julgamento, é a era da existência humana em fraqueza e
mortalidade, do mal, do pecado e da morte. A era vindoura era a realização de
tudo aquilo que o Reino de Deus significa, e será a era da ressurreição para a
vida eterna no Reino de Deus. Tudo, nos Evangelhos, aponta para a ideia de que
a vida no Reino de Deus na Era Vindoura será vida sobre a face da terra – mas
só que uma vida transformada pelo domínio real de Deus quando o seu povo
principiar a desfrutar as bênçãos divinas em toda a sua plenitude (Mt 19.2)”
(Ladd). È difícil querer entender uma ordem superior quando só conhecemos o
desgaste crescente, entrópico. O momento “tempo” que liga a eternidade passada
à eternidade futura, nos limita bastante.
UM REINO MAIS PRESENTE
Abordaremos um Reino que começa a
ser real na experiência humana com o novo nascimento e vai se exteriorizando
pela pratica cristã até a sua plenitude na Era Vindoura. Portanto, traçaremos uma revisão começando pela fé e
destacando a projeção escatológica do Reino de Deus.
Na consumação escatológica, o Reino
é uma herança dos justos (Mt 25.34). O Reino, é portanto, um dom que o Pai se
“agrada em conferir ao pequeno rebanho dos discípulos de Jesus” (Lc 12.32). O
Reino não é apenas um dom para o futuro, numa dimensão escatológica, que
pertence a Era Vindoura, é também um dom que pode caminha com a paz, o gozo e
alegria, que pode ser recebido hoje; é algo que pode ser provado aqui e agora
(Mt 6.33) e recebido como as crianças recebem um presente (Mc 1.15; Lc
18.16-17.).
O Reino representa a satisfação de
todas as necessidades (Lc 12.31). As bem-aventuranças consideram o Reino como
uma dádiva para os pobres de espírito, os perseguidos por causa da justiça (Mt
5.3-10). A bênção futura que pode ser desfrutada hoje, é o Reino. “À medida que
atingia a maturidade, João sentiu um compulsão interior para sair do grandes
centros de populações para o deserto (Lc 1.80). Depois de certo número de anos,
aparentemente de meditação e espera por manifestações de Deus, ‘Veio a palavra
de Deus a João’ (Lc 3.2), em resposta à qual João apareceu no vale do Jordão,
anunciando, de modo profético, que o Reino de Deus estava próximo”.
A pregação de João indicava uma
atividade de Deus imediata no Reino quoe envolvia dois aspectos: um duplo
batismo que deveria acontecer – como o Espírito Santo e com fogo (Mt 3.11 =
Lc3.16). Marcos em sua narrativa condensada falando do ministério de João, menciona
apenas o batismo com o Espírito Santo (Mc 1.8).
REFLEXÃO
Um ponto e vista sobre esta
proclamação é que João anunciou um único batismo
que inclui dois elementos: a punição do
ímpios e a purificação dos justos. Outro ideia interpretativa é o sugerido pelo
contexto. O Senhor Jesus viria e batizaria os justo com o Espírito Santo e os
ímpios com o fogo. Neste caso “batismo” é uma expressão metafórica e não tem
nada a ver com batismo em água. Qual a sua visão sobre o assunto?
A paz e sempre na paz,
Otoniel M. de Medeiros