INTRODUÇÃO
Hoje, na vida da Igreja, o profeta não é aquele que traz uma “nova revelação” além das Escrituras, mas alguém que, em submissão à Palavra de Deus, é usado pelo Espírito para edificação, exortação e consolação (1 Co 14.3). A profecia, quando genuína, tem como centro a glorificação de Cristo (Ap 19.10) e a edificação do corpo de Cristo, nunca a autopromoção ou confusão.
Num tempo em que tantas vozes disputam a atenção do povo de Deus, torna-se essencial compreender biblicamente qual o lugar do profeta hoje, como discernir sua mensagem e qual a relevância desse ministério para a saúde espiritual da Igreja. Neste artigo destacaremos a profecia de origem de Deus, humana e maligna.
1 - A PROFECIA DE DEUS
Na Bíblia, o profeta verdadeiro fala em nome de Deus e suas palavras são fiéis à revelação divina: Deuteronômio 18:22 – “Quando o profeta falar em nome do Senhor, e tal palavra não se cumprir, nem suceder assim, esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele.” Aqui, o critério é a veracidade do cumprimento da palavra. Se não se cumpre, não procede de Deus. Jeremias 23:16 – os falsos profetas falavam “visão do seu coração” e não da boca do Senhor. 2 Pedro 1:21 – o verdadeiro profeta é movido pelo Espírito Santo, não por vontade própria.
Ou seja, na Bíblia, o verdadeiro profeta não erra quando fala em nome do Senhor. No Novo Testamento, há instruções específicas: 1 Tessalonicenses 5:20-21 – “Não desprezeis as profecias, mas examinai tudo; retende o bem.” Aqui, Paulo reconhece que no meio da igreja podem aparecer profecias verdadeiras e outras misturadas com erro ou interpretação humana, por isso a necessidade de exame. 1 Coríntios 14:29 – “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” Isso mostra que nem tudo o que é chamado “profecia” deve ser aceito sem discernimento. A comunidade deve julgar conforme a Palavra. Assim, diferente do Antigo Testamento, onde o profeta era a voz exclusiva de Deus para o povo, no Novo Testamento a igreja recebe o Espírito Santo e tem o dever de discernir e julgar a profecia.
Pode um verdadeiro profeta hoje errar?
2 - A PROFECIA HUMANA
Pela Bíblia - Antigo Testamento: o verdadeiro profeta não podia falhar, pois falava diretamente da parte do Senhor. Novo Testamento: há uma distinção. O dom profético é real, mas a Bíblia orienta a provar e julgar as profecias. Isso indica que, mesmo em alguém com dom profético, pode haver mistura da inspiração do Espírito Santo com impressões pessoais (1 Co 13:9 – “Porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos”).
Ou seja: Uma pessoa hoje pode ser usada por Deus em profecia. Porém, ela não é profeta no mesmo nível de Isaías, Jeremias ou João. O profeta não mente mas erra por engano. Como Paulo disse, profetizamos em parte, portanto, pode haver erros humanos misturados. Daí a necessidade de “julgar” (1 Co 14:29) e “reter o bem” (1 Ts 5:21).
2 - A PROFECIA HUMANA
Base bíblica: Jeremias 23.16, 21: “Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam... não os enviei, contudo eles correm; não lhes falei, contudo eles profetizam” Ezequiel 13.2-3: “Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito e coisas que não viram”. Características: Desejo de destaque, manipulação ou autopromoção. Uso do nome de Deus para validar ambições pessoais. Profecias que trazem confusão, medo ou bajulação ao invés de arrependimento e edificação. Consequência: Esse é o caso da falsa profecia, que não procede de engano humano, mas de intenção carnal. Deus condena severamente (Dt 18.20: “o profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar... morrerá”). No mínimo está morto espiritualmente.
3 - PROFECIA DE ORDEM MALIGNA
O Espírito Santo não inspira o mal nem induz o crente a falar algo contra Deus (1 Co 12.3: “Ninguém, falando pelo Espírito de Deus, diz: Anátema seja Jesus”). Efésios 1.13-14: “Fostes selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança...”. O selo é garantia de pertença a Cristo, proteção espiritual e marca da salvação.
Pode um cristão ser usado para profetizar algo de ordem maligna? Diretamente pelo Espírito Santo: NÃO. O Espírito de Deus nunca inspirará uma mensagem maligna. Deus não contradiz a si mesmo (Tt 1.2; Hb 6.18). Indiretamente, por influência humana ou espiritual: POSSÍVEL. Mesmo sendo salvo, o cristão ainda pode: Deixar-se levar por emoções ou orgulho pessoal, achando que fala em nome de Deus. Dar brecha espiritual (Ef 4.27), permitindo engano, caso não vigie. Misturar revelação genuína com pensamentos humanos ou até influências espirituais externas.
Exemplos bíblicos nesta área: Pedro: em Mt 16.16, professa corretamente que Jesus é o Cristo (revelação do Pai). Mas logo em Mt 16.22-23, repreende Jesus de modo carnal, sendo usado como instrumento da ideia de Satanás: “Para trás de mim, Satanás!”. Mostra que um discípulo sincero pode, em dado momento, expressar palavras contrárias ao plano de Deus. Profetas do AT: alguns misturavam revelações de Deus com palavras de seu próprio coração (Ez 13.2-3). Nem destacamos o que realmente não são crentes.
CONCLUSÃO
É indispensável discernimento: Provar os espíritos (1 Jo 4.1). Nem toda mensagem que vem de um cristão é automaticamente inspirada pelo Espírito Santo. Conferir com a Escritura (Is 8.20). Se contradiz a Palavra, não vem de Deus. Avaliar frutos (Mt 7.15-20). A profecia verdadeira edifica, consola e exorta (1 Co 14.3). Julgar em comunidade (1 Co 14.29). O dom deve ser avaliado pela igreja. O crente maduro deve: Julgar a profecia pela Escritura. Observar os frutos na vida do profeta (Mt 7.15-20). Examinar se Cristo é glorificado e a Igreja edificada.
Graça e paz.
Otoniel Medeiros
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